Entenda como as grandes corporações avaliam startups no Corporate Venture Capital
Por Giuliano Minuzzo, Innovation Consultant de CVC na ACE Cortex
Investimentos de grandes corporações em startups nos últimos 8 anos têm ganhado cada vez mais relevância, especialmente em indústrias que começaram a enfrentar altos níveis de disrupção, o que criou diversas oportunidades no mercado. O Corporate Venture Capital, também conhecido como CVC, surgiu com a finalidade de aliar altos retornos financeiros com os propósitos estratégicos de grandes corporações.
Observa-se uma tendência, especialmente na sequência da pandemia de Covid-19, das corporações aumentando seu investimento de risco com o objetivo de examinar quais tecnologias ou inovações elas precisam se expor para permanecer adaptáveis e flexíveis. Segundo dados da KPMG Enterprise (ver gráfico abaixo), a partir do segundo trimestre de 2020, não só o volume de investimentos de CVC cresceu, como também o número absoluto de negociações registradas.
Mas, afinal, quais são os critérios que as corporações levam em consideração para sustentar se esse investimento de risco vale a pena? Existem alguns rituais, dentro de grandes corporações, que são realizados antes da aprovação de um investimento. Contudo, os rituais tradicionais de avaliação – que envolvem passos como a definição de orçamento e o cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR) – raramente são adequados no momento de avaliar o investimento em negócios disruptivos.
Confira oito dos principais critérios utilizados por grandes corporações para a análise de startups em potenciais investimentos:
- Overview do Time/Founders: Quem são os fundadores da Startup e qual é o seu background? Como eles operam no seu dia a dia? Quais são suas características mais marcantes? Quais são seus pontos fortes e fracos? A visão estratégica dos C-Level está alinhada com os demais colaboradores?
- Produto/Serviço e a estratégia de venda: Qual é o problema que está sendo resolvido? Quais são os modelos de negócio existentes e como eles resolvem o problema? Como é monetizado este produto/serviço? Quais são os principais gargalos e qual é a roadmap de melhoria?
- Análise de Mercado: Qual é o tamanho de mercado que a Startup consegue atingir? Quais são as principais tendências deste mercado? Quais são os principais players e como está posicionada a Startup analisada?
- Fatores de Risco: Quais são os fatores de risco do negócio, do mercado que atua, relacionado ao cliente, financeiro, contábil e tributário?
- Análise da Rodada de Investimentos: Qual é o captable atual? Qual é o tamanho da rodada de Investimento Solicitada? Qual é o quadro de usos e fontes? Quais os resultados esperados e as hipóteses que os fundadores pretendem testar com esse capital?
- Análise de Sinergias: Quais são as sinergias que essa Startup pode ter com as outras Startups investidas e com a corporação?
- Financials: Qual tem sido seu crescimento de faturamento nos últimos 12 meses? Qual é a sua margem atual? Qual é a qualidade da sua receita, é uma receita recorrente ou one-time shot?
- Metodologias de Valuation: A startup apresenta um plano financeiro detalhado? O crescimento projetado está de acordo com o tamanho do mercado? Quais são as premissas utilizadas para justificar essas projeções? Quanto vale esta Startup? Qual método é o mais adequado a ser utilizado?
As especificidades do valuation de startups
Percebe-se que alguns dos critérios de investimento, seja ele minoritário ou M&A, requerem que se tenha um conhecimento profundo da empresa e do mercado no qual ela está inserida. Iremos aprofundar mais o último ponto que trata sobre as metodologias de valuation, e explorar se existe algum critério que diferencie a forma como é analisado um investimento minoritário em comparação a um M&A.
Ao avaliar uma startup é importante levarmos em consideração que estas empresas estão em uma fase muito inicial do seu ciclo econômico. Algumas se encontram na fase de ideação, onde o founder tem uma ideia que acredita atender uma necessidade não satisfeita entre os consumidores. Outras se encontram já na fase que converteram a ideia em um produto comercial, porém ainda com pouca receita ou ganhos de lucratividade.
O importante ao se fazer uma avaliação de uma startup é descobrir qual é o seu valor intrínseco – lembrando que valor é diferente de preço. Existem 4 pilares fundamentais que devemos levar em consideração na hora de poder sustentar valor:
- Qual é a geração de caixa que os atuais ativos estão propiciando;
- Qual é o crescimento esperado ao realizar investimentos, em novos ativos e melhorando a eficiência dos atuais;
- Qual é a taxa de desconto para trazer esses fluxos futuros a valor presente, levando em consideração o risco do negócio e a sua estrutura de capital;
- Quando a empresa irá atingir sua estabilidade, permitindo estimar o valor terminal.
Outros modelos de avaliação
As características descritas anteriormente servem de munição para poder construir o valor da empresa empregando um método de valuation chamado de Discounted Cash Flow, também conhecido como DCF. Este método atualmente é o mais aceito quando a questão é estimar o valor de uma empresa, porque são levadas em consideração características específicas.
Porém, o fato de termos poucos dados históricos da operação da startup, assim como existirem preferências de liquidez entre os acionistas e ser necessário levar em consideração que empresas em estágios muito iniciais são mais propensas ao fracasso, a avaliação fica mais difícil.
Por conta disso, ao se avaliar uma startup, sempre tentamos usar mais de uma metodologia de avaliação, incluindo ou não o DCF, para termos uma perspectiva de faixa de valor. Alguns destes outros métodos empregados são:
- VC ROI Method: Usado em empresas cujo faturamento é baixo ou nulo. Basicamente se considera quanto de dinheiro aquele empreendedor precisa para manter a empresa e qual é o percentual de participação da empresa (o equity) que ele está disposto a ceder em troca do investimento. A soma destas duas partes dá uma noção de quanto a empresa vale;
- Scorecard Valuation: Utiliza como base o valor pré-money médio de startups da mesma região e estágio (“Referência”), se é definidos pesos dos fatores de análise e então se atribui uma nota para os fatores da startup em análise em relação à “Referência”.
- Método de Avaliação de Múltiplos: Considerada uma metodologia de avaliação baseada no conceito de valor relativo. Isso significa dizer que, ao precificar uma empresa, são utilizados múltiplos de outras ações similares com o intuito de estimar qual deveria ser o valor da empresa analisada.
- First Chicago Methodology: Abordagem de avaliação baseada na construção de cenários e a probabilidade de sucesso em cada um desses cenários.
Para concluir, respondendo à pergunta de qual é a diferença entre avaliações para investimentos minoritários e um M&A, a resposta depende do ciclo econômico que se encontra a startup e do nível de detalhamento que se tenha da empresa. Não é uma escolha escrita em pedra que define qual método usar, é preciso avaliar caso a caso.
Quer mais conteúdo? Nós temos!
Se você ficou curioso para saber mais sobre o desafio de implementar uma estratégia de Inovação Aberta focada em hubs e laboratórios de inovação, fique tranquilo porque a ACE Cortex tem mais conteúdo para você.
Na websérie “Open Innovation: Hubs e Labs de Inovação”, a ACE Cortex reuniu sete executivos de alguns dos principais hubs de inovação do Brasil para comentar sobre boas práticas no desenvolvimento e execução de estratégias de Inovação Aberta. As conversas foram gravadas e estão disponíveis no YouTube da ACE.
Essas entrevistas também foram compiladas em um report exclusivo e gratuito sobre Inovação Aberta e o desenvolvimento de hubs e laboratórios de inovação. Se você quer saber como construir a sua estratégia de inovação corporativa, leia o report “Inovação Aberta: Acertos e Erros de Sete dos Principais Hubs de Inovação do Brasil”, desenvolvido pela ACE Cortex. Clique aqui para acessar a página de download do material.
Ouça a série de podcast “Fator Inovação”:
Episódio 1
Episódio 2
Episódio 3